🤔#09 Nem permissivo, nem autoritário... nem parentalidade positiva
Existe uma variante de práticas parentais que não se encaixa nem na permissividade, nem no autoritarismo, e tão pouco na parentalidade positiva. Mas isso não significa que é bom.
O que é pior para uma criança, o autoritarismo ou a permissividade?
Em um, a criança aprende que ela não é importante. Quem sabe são os pais, o que ela sente não importa ou está errado e sua função na relação é apenas seguir as regras. No outro, a criança aprende que só ela é importante. Passa por cima dos desejos e necessidades dos outros e a função dos outros na relação é apenas lhe atender. Neste último caso ainda, a criança fica com a informação, ainda que inconsciente, de que aqueles adultos não estão aptos para lhe proteger, ou simplesmente não querem.
Em outras palavras, ambos são ruins!Â
Até aqui, acredito que não trouxe nenhuma grande novidade, certo?!
Acontece que existe uma terceira variante que pouco se fala que é tão danosa (ou até mais) quanto as duas primeiras, a ambivalência.
A ambivalência é descrita na Teoria do Apego (ou Teoria da Vinculação), de John Bowlby,  como um dos tipos de vinculação entre adulto e criança. Ela nada mais é do que práticas parentais inconstantes, em que os adultos, principalmente os pais, respondem às necessidades da criança de maneira irregular e inconsistente. Em outras palavras, a criança não tem ideia de que tipo de comportamento ela deve esperar dos pais e, consequentemente, se suas necessidades e proteção estarão asseguradas. As ações destes pais se apresentam como um pêndulo, ora permissivo, ora autoritário - de um extremo ao outro.
Estas crianças têm a percepção de que o mundo e os outros são imprevisÃveis. Que carinho, segurança e conforto não estão garantidos. Além de gerar grande ansiedade, é muito provável que cresçam com a ideia de que precisam sempre agradar aos outros para serem merecedores de amor e aceitação.
Um estudo recente com crianças mostrou que a imprevisibilidade nos cuidados parentais está associada à uma redução do comportamento exploratório das crianças1. Os autores afirmam, que as crianças que vivenciaram uma infância inconstante experimentam menos e estão mais propensas a repetir escolhas anteriores, mesmo que estas resultem em recompensas menores. Outro ponto levantado no estudo é que estas crianças tendem a recorrer a hábitos ou opções padrão como uma forma de minimizar a incerteza, dado que a opção de explorar e tentar algo novo é arriscada demais.
Além da perda da capacidade de exploração, que é um importante mecanismo de aprendizagem para o ser humano, situações assim formam crianças que se contentam com pouco, que não se acham merecedoras de mais e não desenvolvem o seu verdadeiro potencial. E se não bastasse isso ser uma tragédia para com a infância, essas experiências dos primeiros anos da vida tendem a moldar um padrão de comportamento para a tomada de decisões no resto da vida.Â
É forte, eu sei. Mas é cada vez mais comum nos depararmos com essa dinâmica entre um ou ambos os cuidadores. Seja por desinformação, por informação incompleta, por sobrecarga, por feridas não curadas, pelas tentativas sem sucesso de abandonar o autoritarismo ou pela insustentabilidade da permissividade (ainda vou vir aqui só para falar disso), não podemos deixar que a consistência nos escape pelas mãos, porque a conta quem paga são os nossos filhos, e ela é alta demais!
Para aprimoras suas competências parentais, entre já em contato e agende uma sessão de orientação parental.