Hoje, 15 de maio, é o Dia Internacional da Família. Até onde eu sei, a data não é muito conhecida no Brasil, só passei a ter conhecimento disso aqui em Portugal. E eu, que vivo mergulhada no universo das relações familiares, podia vir aqui fazer um texto fofo com foto de domingo no parque. Mas não. Hoje eu vim falar da parte difícil, dos pontos negativos da família.
Pensando bem, não são exatamente os pontos negativos da família. São os pontos… reais. Aqueles que não cabem em comercial de margarina nem na moldura da sala.
Então, vamos lá: você não precisa gostar da sua família. Isso mesmo. Pode respirar fundo. Pode até reler se quiser.
Você não precisa venerar seus pais. Nem ser a melhor amiga da sua irmã. Nem ouvir calada tudo o que seu tio diz no almoço do fim de semana ou aceitar os conselhos da sua avó só porque ela é a voz da experiência (às vezes, é só a voz do século passado mesmo).
É que a gente cresce ouvindo que “família é tudo”, “família é sagrada”, “família é amor incondicional”. Mas e quando não é? Quando o laço de sangue pesa mais que conforta? Quando o convívio machuca? Quando o amor vem com um manual de instruções e uma longa lista de exigências?
A verdade é que família pode ser fonte de afeto, sim — mas também pode ser fonte de dor, de culpa, de silêncios desconfortáveis. E seguir fingindo que todo mundo se ama só porque compartilha sobrenome, sinceramente, custa caro. Custa autoestima, custa saúde mental, custa a gente mesma.
Você tem o direito de colocar limites.
Tem o direito de se afastar.
Tem o direito de ir — e decidir nunca mais voltar.
Porque o que sustenta uma família de verdade não é o status que cada um ocupa. É o respeito mútuo. É a possibilidade de existir como se é, sem precisar caber num papel pronto ou numa expectativa.
Agora, eu sei… pensar nisso do lado de cá, como filha, neta, irmã, pode até fazer sentido. Mas e enquanto mãe? Dói só de imaginar um filho se afastando, não reconhecendo ali um lugar seguro.
Eu sei. Eu também tenho.
Mas de que adianta medo? Nada. É preciso olhar para como queremos construir a nossa história, e isso se faz com o respeito que a gente oferece hoje. É o espaço que a gente abre para o outro ser quem é, e não quem a gente gostaria que fosse. É a escuta, o afeto, a firmeza que não machuca.
Porque quando há respeito de verdade, ninguém precisa fugir para se proteger.
A gente escolhe ficar.
Que, independente dos laços de sangue (ou do que está escrito no seu documento), você encontre uma família, onde possa se apoiar e respirar aliviada!
Feliz dia da família!
Este texto devia ser um artigo público e científico nos livros da escola