🔄#45 Respeito é bom, mas tem limite!
"É preciso entender e respeitar a natureza e as necessidades da criança". Será?
"É preciso entender e respeitar a natureza e as necessidades da criança".
Essa frase corre solta pelas redes sociais sobre parentalidade, e ganha ainda mais força quando falamos sobre crianças neurodivergentes. E ela é real. É nosso papel enquanto adultos com o cérebro formado, e blablabla Whiskas sachê (ou Whiskas saquetas na versão tuga).
Não estou aqui para desdizer isso.
Acontece que vejo muita interpretação rasa dessa ideia — e isso, no fundo, está arruinando a nossa parentalidade. Porque respeitar a natureza e as necessidades da sua criança o tempo todo, em todo lugar, acima de qualquer coisa... não é viável no longo prazo.
Quando esse é o nosso único ponto de atenção, acabamos deixando de respeitar a nossa própria natureza e necessidades. E não há Buddha Zen Namastê que aguente isso por muito tempo.
E então, o que acontece?
Explodimos.
Gritamos, ameaçamos, fazemos o que não querÃamos fazer.
Depois, vem o sentimento de fracasso. A ideia de que somos incapazes de sustentar a tal parentalidade respeitosa. E, como consolo torto, até começamos a duvidar que alguém consiga de verdade.
Quer um exemplo?
Seu filho de 3 anos não consegue comer sentado. Você leu que isso é esperado para essa idade. Mas dentro de você há uma necessidade — talvez emocional, talvez prática — de que ele coma sentado.
Você conta histórias para si mesmo sobre quem essa criança vai ser quando crescer.
Mas, como precisa respeitar a natureza dela, você o deixa comer dando cambalhotas no sofá. Até que o incômodo cresce tanto… que você grita, humilha e começa a falar do emprego que ele não vai conseguir em 2046 porque não aprendeu a comer sentado.
Com uma ou outra variação, essa cena lhe é familiar?
Quando você grita, explode, humilha e ameaça, provavelmente deixou de olhar para a sua natureza e necessidades. Ultrapassou o que era o seu limite. Não se colocou como fator importante nesse processo.
E não há cérebro maduro que aguente isso.
E claro que o universo é um engraçadinho: muitas vezes, as nossas necessidades são opostas às dos nossos filhos. Eu não sou exceção — já contei mais de uma vez que eu me desregulo com barulho e a minha filha se regula com barulho. 🤡
Encontrar esse equilÃbrio não é fácil. Mas é essencial.
A famÃlia é um ecossistema — só funciona bem se considerarmos o todo. Não existe quem seja mais ou menos importante.
Respeitar seu filho não pode significar desrespeitar você.
E se respeitar não pode significar desrespeitar seu filho.
Todos precisam ganhar. E também ceder.
Você não tem que estar disponÃvel o tempo todo.
Ele não pode fazer só o que quer.
Existem caminhos alternativos entre a sua forma de fazer e a dele.
E quando uma pessoa se sente respeitada na relação, ela naturalmente tem mais vontade de respeitar o outro também — seja você com seu filho, seja seu filho com você.
É difÃcil aceitar que não existem soluções perfeitas — só escolhas conscientes.
Mas acredite: para ser verdadeiro, o respeito precisa incluir você também.
Quando isso acontece, os gritos diminuem, a paciência cresce, e a sua parentalidade começa a se parecer com aquela que você sempre sonhou — possÃvel e viva.